#14 Perguntas e respostas
No episódio dessa semana: rede social de perguntas, fan game de Megaman e a busca pelas antigas comunidades virtuais
Antigamente, lembro de existir o Formspring. Com o tempo, veio o Askfm, fazendo a mesma coisa, basicamente. Em seguida, o CuriousCat, com nome e imagem bem mais “““marketáveis”““, parecia ser a rede social de perguntas e repostas definitiva. Não foi, vieram outras depois que estão aí até hoje, até mesmo dentro de outras redes.
A cultura de rede social de perguntas aflora comportamentos interessantíssimos dos dois lados dessa dinâmica (quem pergunta e quem responde). Sempre vi gente que passa bastante tempo respondendo os haters que interagem com provocações rasas. É incrível pensar que plataformas assim conseguem proporcionar a experiência de dedicar tempo para um “meet & greet” virtual com odiadores tal como artistas famosos com pouca ou nenhuma assessoria descente fazem.
A ideia de ter um "S.A.C." só seu é tentadora por vários motivos superficiais e por tantas outras razões da profundidade do nosso subconsciente enquanto usuários crônicos de internet. Além dos usos mais recorrentes (paqueração e hate anônimo), você pode fazer com que as pessoas que te acompanham o conheçam melhor. Ao mesmo tempo, pensando questões sobre si, você mesmo se conhece melhor, ou acredita que está se conhecendo melhor. Podemos partir do pressuposto que você nunca teve a oportunidade de se apresentar direito à rede mundial de computadores. Através das questões levantadas, você irá preenchendo na imaginação das pessoas da internet uma ideia do que você é, suas características que você ou quem perguntou julgou que seriam importantes de ser públicas… a formação do seu lore online.
Eu particularmente aprecio a forma “enciclopédica” de conhecer alguém. Se você vem até mim e se apresenta como “olá, meu nome é fulano! Esse sou eu: “ e entrega uma lista de características diversas sobre você, eu vou dar uma olhada com interesse genuíno. As redes sociais já foram mais ou menos isso tempos atrás.
Na ficção, existe um troço que eles chamam de “bíblia da série”, um livro para a produção e investidores com informações essenciais sobre personagens e acontecimentos recorrentes que uma obra pode apresentar.
E, sabe, esse é o tipo de conteúdo que eu gostaria de ter sobre as pessoas. Eu sei que muita gente tende a fugir de estereótipos e classificações na mesma intensidade que busca afirmação em grupos de interesses em comum, mas eu realmente aprecio quando alguém se condiciona a ser representado por características pontuais e funções, por mais que estejamos longe de simplesmente ser o conjunto do que podemos classificar sobre nós mesmos. Não se trata sobre conteúdo, é mais sobre a forma e como brincamos com ela.
Buscando por newsletters para ler, encontrei as ruínas de uma que me levou até outro conceito interessante. Em sua última postagem no substack (última mesmo, era o fim), Nathalia apresentou o conceito de digital garden (ainda falarei novamente disso nos extras da newsletter) e a sua proposta para esse modelo. No endereço “blot.im”, em seu próprio espaço, ela preenche tags de assuntos diferentes (por ex: viagens, livros lidos, fotografias) com o seu próprio conteúdo. Eu gostaria de ver uma página assim de pessoas que eu acompanho, mas não me vejo fazendo parte ativamente também.
No fundo, se assim quisermos, as propostas de plataformas podem tentar responder uma velha pergunta que persegue qualquer ser humano: quem é você? Respostas diferentes podem vir numa entrevista de emprego, num bar, durante um encontro ou em frente ao espelho após uma crise existencial. Atualmente, não tenho interesse em nenhuma delas. O que eu realmente quero, é ler a página wikia de alguém.
Os fan games de Megaman costumam seguir a mesma estrutura dos jogos oficiais clássicos da série. Você tem 8 chefões temáticos para enfrentar no final de suas respectivas fases. A escolha da ordem das fases é livre, mas existe a lógica de fraqueza de chefes entre as armas que você captura deles quando eles são derrotados. A arma do boss aquático é efetiva contra o boss do fogo, a arma do boss da serra bota o boss de madeira para mamar, etc. Geralmente existe um sentido coerente para o poder de um chefão dar mais dano em outro.
Alguns desses fan games criam seus próprios personagens, com temas de chefões que ainda não foram abordados nos jogos oficiais. Eu já perdi um tempinho no youtube vendo até onde vai a criatividade do pessoal para inventar bonequinho de Megaman.
Recentemente, acabei tropeçando num achado incrível.
O criador de conteúdo TNT Destruidor fez um vídeo para explicar as fraquezas dos chefões de Megaman Recharged, um fan game que ainda não foi lançado, mas que já tem algumas informações divulgadas. O youtuber faz uma análise profunda e coerente da razão de cada fraqueza de boss para uma determinada arma. Vou deixar algumas de suas explicações aqui e convido você a analisá-las comigo.
Fungus Man (fraco contra a arma do Aero Man — turbo):
Muitas pessoas pensam que fungo é planta, mas não é, é fungo. Ele cria cogumelos (…). Os cogumelos odeiam o quê? Calor em excesso. Por esse motivo, a fraqueza dele é o ataque do Aero Man, o turbo (fogo). Os cogumelos são fungos, fungos odeiam calor. É como se eles fossem bactérias, mas eles se alimentam de outro jeito. Eles apodrecem os alimentos (…). Você vai ver banana, essas coisas, o fungo comeu. Eles comem a maioria dos alimentos que é vegetal. Por isso é que eles não são vegetais, porque eles comem vegetais, não é?
Me perdi um pouco na biologia, mas a parte do calor parece fazer sentido. Além disso, afirmar que você não ser vegetal está no fato de você comer vegetal vai completamente contra o ditado popular “você é aquilo que você come” (Ouroboros), lógica que só faz sentido se você for o Kirby, personagem de outra franquia de jogos.
Desert Man (fraco contra a arma do Fungus Man — cogumelo):
O Desert Man é de areia (…). A fraqueza dele é cogumelo porque os fungos gostam de areia. Se os fungos estão na areia e ele tenta sair da areia, o que vai acontecer? Os fungos serão uma armadilha. Na hora que ele sair: *PIOWWW* Explode nele, os fungos pega ele.
Achei a onomatopeia bem convincente ao explicar o perigo dos fungos. Eu mesmo nunca mais vou chegar perto de um cogumelo com medo dele explodir na minha cara.
Dino Man (fraco contra a arma do Desert Man — areia):
Por que a fraqueza do dinossauro é a areia? Presta atenção! Dinossauros tem medo do quê? De virar fóssil! (…) Os dinossauros não gostam de ser enterrados vivos na areia (…) Como ele é um dinossauro, tudo que lembra ele de ser fóssil, ele vai odiar. Você acha que ele vai querer ser enterrado vivo? Ele é um dinossauro! (…) O dinossauro detesta ser fóssil, porque ele lembra da morte dele, que é fóssil. Você acha que ele vai gostar de ser fóssil? Ele tá morto!
Veja bem, ele chega a conclusão que existe um medo inerente no dinossauro, o medo de virar fóssil, esse evento extremamente traumático que aterrorizou o povo dos dinossauros há milhões de anos atrás. Ele ainda afirma que o trauma em virar fóssil faz com que o dinossauro tenha medo de ser enterrado vivo. Eu tenho medo de ser enterrado vivo. Eu sou um DINOSSAURO?! 😮
Além de mim, outro internauta ficou completamente fascinado com a análise de fraquezas do TNT Destruidor. Na seção de comentários, o user-pm6on5ol8m, um aparente jovem extremamente vigoroso, estava curioso para saber de cada fraqueza possível na franquia clássica Megaman.



Enfim, recomendo o canal do youtuber TNT Destruidor. Na descrição, ele diz que aborda “Megaman, Mahou Shoujo e Fandubs de animes”. Ou seja, o fino do fino da cultura de internet.
1- [Gato da semana] Gata do Vizinho I: ela é carinhosa, interesseira, comilona e sabe atravessar a rua. Infelizmente, meu vizinho não dá muita atenção para bicho de estimação mesmo ele tendo alguns. A Gata do Vizinho não foi castrada por muito tempo. Por um período, ela proveu vários gerações de filhos, vivendo constantemente grávida até finalmente “fechar a fábrica”. Como ela é mãe de muitos gatos recorrentes da vila, também chamo ela de “Equidna, a mãe de todos os gatos”. Uma veterinária da vizinhança ficou sensibilizada com ela e arranjou um novo lar com uma família rica. Good ending.


2- Esse tweet e o QRT me fizeram lembrar de coisas que penso constantemente enquanto usuário de redes sociais decadentes:
Sim, o molde das plataformas hoje em dia está focada em algoritmo, engajamento, fluxo constante de conteúdo, etc. A.I. vem para potencializar ainda mais essa lógica. Isso é tanto voltado para público muito novo que está crescendo com essa internet quanto para gente velha, velha mesmo, que inevitavelmente trocou o celular pré-histórico de quase 10 anos por um smartphone e está entrando tardiamente nas plataformas de internet, onde tudo é muito fácil e intuitivo. A timeline cronológica é uma função que toda plataforma quer se livrar, mas tem segurado na sua estrutura para não espantar nós, dinossauros virtuais (veja bem, se vc entrou na internet em 2011, suas preferências já podem ser velhas para o modelo atual).
Sobre comunidades virtuais, reforçando o QRT, eu adicionaria também telegram e discord, apesar de ter vários motivos que fazem pessoas manterem distância desses lugares, como público tóxico, descaso da moderação da plataforma e a possibilidade do Brasil simplesmente proibir o seu acesso do nada. Creio que o principal nessas duas plataformas seja conseguir encontrar o seu lugar, o que é realmente difícil, você geralmente depende de alguém conhecido já inserido num espaço de seu agrado que te informe que esse lugar existe (e ele existe, até mesmo para você). E não dá para negar que também são excelentes espaços para golpe e lavagem cerebral. APESAR DE TUDO, ainda é um espaço com comunidades bacanas.
Discord e Telegram, pelo que eu percebo, reacenderam a pirataria para muita gente. Sempre vejo pessoal comentando que os mais diversos tipos de conteúdo (HQ, séries, cursos, etc) podem ser encontrados no Telegram. Discord, centralizando um interesse específico, também proporciona compartilhamento de material.
Eu acho o Reddit incrível, mas sou pé atrás. Ainda acho que ele mete uma faca nas costas da internet quando ela menos esperar.
Substack tem sido excelente para mim. Ainda falo melhor sobre numa outra newsletter.
Eu li “comunidade de jardins digitais” no QRT e… bem… eu li literalmente o que o termo diz? Achei que eram realmente jardins digitais??? Cliquei no link do github acreditando que eu baixaria componentes para ter plantas virtuais no meu computador, que você precisa regar com água virtual, um tamagotchi de planta tão bem feito e cativante que seria uma espécie de “Dwarf Fortress”, com uma gigantesca comunidade de gente apaixonada, com dicas de como não deixar a sua planta virtual morrer? É, eu tô maluco. Que tristeza clicar no link e ver que era algo que eu já conhecia (dei um exemplo no texto acima), mas que não associava diretamente a esse nome por alguma razão. Mas fica aí o conceito.
3- Na cota de vídeos do youtube de gringos fascinados com algo do Brasil, esse baixista americano está maravilhado com o Ed Motta.
Tentei e ainda tento bastante criar o hábito de frequentar o Reddit mas não sei, não me pegou ainda. Talvez eu não tenha encontrado as comunidades mais legais ou o formato de como as coisas são apresentadas me afastem. Recomenda algumas ai, talvez me ajudem a usar mais :)