Eu gosto de pegar o bonde andando. Existem situações em que ser inserido no meio, e não num ponto exatamente introdutório, traz uma visão mais interessante. O aluno novo da classe, chegar num trabalho que já tem uma rotina, ser o namorado que a filha finalmente apresenta para a família. Nessa perspectiva, você vê como as coisas funcionam com elas já em ação. A vida acontece independente de você. Ter a tarefa de ver um cenário e interpretar o que ele é, o porquê das pessoas agirem como agem, ter como novidade o que é rotina para os demais, traz um tempero gostoso de descoberta em situações mundanas.
Em mídias, eu tenho um costume que pode ser visto como ineficaz. Muitas vezes, gosto de verificar sobre o que é tal história pegando um episódio ou capítulo avulso. Digamos que eu ache um mangá que desperte o meu interesse. Em vez de começar pelo capítulo 001, eu vou lá pelo 036, 128… vejo o que está rolando. Se aquele momento me atrai de alguma forma, eu volto pro início e vejo a história cronologicamente para chegar até a esse momento que me fisgou. Isso nem precisa ser pensado. Na TV, às vezes, você está passando por ela e um episódio de série ou capítulo de novela chama a sua atenção. Isso, talvez, seja mais difícil de ser imaginado pela galera bem mais nova que consume desde sempre streaming e maratona tudo numa porrada só.
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Sempre tive sono regulado, mas tem dias que ele não vem. Uma coisa que funcionou bem comigo por muito tempo foi podcast de política internacional. Os apresentadores estão comentando sobre novos acordos chineses em mercados que os EUA perderam espaço, passam para alguma crise em ilha no meio do pacífico, Turquia vende drones para país com disputa por fronteirzzzzZZZZ. Geralmente funciona. Às vezes não. Tem vezes que eu realmente quero saber se Wakanda do Norte ainda reconhece Taiwan como Estado soberano ou prefere dar razão para a China por questões comerciais.
Recentemente, descobri um sonífero ainda mais potente que podcast de política internacional: lore de coisa que eu não consumo.
Tem um vídeo do Ilha Kaijuu que ele rebusca a construção do otaku japonês, ou algo próximo disso, nos seus primórdios. Uma das questões que ficou muito evidente (por motivos péssimos, mas né) foi a característica do fã que tem o exercício de catalogar o produto que consome. Diversos universos de obras tem fãs que dedicam um tempo e esforço considerável na atividade de pesquisar, catalogar e compartilhar elementos do mundo que eles tanto adoram. Sobre esse precioso impulso de catalogar, que você provavelmente vai esbarrar ao adentrar o terreno de uma fanbase, a Isabela Thomé comenta o caso da lista de figurantes únicos de Bob Esponja feita pela comunidade nesse texto da newsletter dela.
No meu contexto, por diversas razões, existem vários universos que eu realmente não vou consumir como se deve. Não vou nem mesmo pegar um episódio ou capítulo avulso. Ainda assim, tenho curiosidade. Para saber por alto o que eu estou perdendo e não vou me aprofundar, escolhi assistir alguns vídeos de lore no youtube (e, consequentemente, descobri que eles são ótimos para me apagar no sono). Vou listar alguns por obra/assunto:
Warhammer
A franquia dos pintores de bonequinho. Acho incrível como tudo é OVER nesse universo. Soldados brutais, terrores cósmicos, guerras de dimensões absurdas de espaço e tempo. Para além do lore, fico impressionado também como esse é um produto que tá sempre tentando algo. Sempre tem um jogo novo saindo, de vários gêneros, de estratégia ao FPS.
Zona de sono: geralmente durmo na descrição de raças específicas demais.
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Magic The Gathering
Apesar da certa familiaridade com cartinhas, nunca fui do trem “nerds que comprou um baralho inicial de Magic para ficar brincando com outro colega nerds”. Vendo posteriormente o que deixei passar, parece uma coleção de universos ricos e diversos. A treta de Amonkhet é coisa de filmão.
Zona de sono: certas partes de construção de mundo muito extensas.
O universo de O Senhor dos Anéis
Bem, eu assisti a trilogia do Peter Jackson e li um bocado da Sociedade do Anel. Isso é uma base modesta para um início. Mas ainda tem muita coisa que acontece cronologicamente antes que os próprios fãs discutem bastante. O surgimento desse mundo e de cada povo é uma mitologia de outro tempo, coisa de pesquisador que o Tolkien realmente foi. Eu gosto também da questão do Tom Bombadil. Os fãs tem suas próprias impressões e teorias. Pra mim, vendo meio que de fora, ele é a coisa mais video game que esse mundo tem.
Zona de sono: durmo lá pela parte de árvore genealógica de um querido qualquer atravessando eras.
Dark Souls e demais jogos da FromSoftware
Nesse caso aqui, tanto quanto o lore em si, eu fico admirado com a fanbase. Até onde entendo, esses jogos não tem uma história bem definida e contada de forma direta. Descrição de itens, transformações em cenários e falas de um NPC aleatório são peças da história que vai se encaixando onde pode, deixando ainda certos buracos que nunca terão confirmação alguma. Isso faz da comunidade verdadeiros acadêmicos de história desses mundinhos.
Zona de sono: quando o cabra contando o lore fala que vai partir para as teorias pessoais dele, o cérebro já entra em repouso.
Bônus
1- Essa é a parte do texto depois que o texto acaba. Devia ter um outro nome? Uma estética diferente? Devo apresentar uma outra personalidade? Ainda não sei.
2- Você está pulando a ordem de leitura assim como eu? Esse é o segundo texto da newsletter, que foi pensado para ser o terceiro antes de ser publicado, mas você pode estar lendo ele primeiro, antes da introdução. Isso fará alguma diferença na sua experiência?
3- Pretendo postar textos toda terça-feira, que foi o dia que o primeiro texto foi postado. Se ainda estiver se perguntando “sobre o que seria essa newsletter?”, creio que fique mais claro pelo terceiro ou quarto texto fazendo uma média do que saiu.
4- Descobertas da Semana Spotify: gostei desses cabra
5- Só para complementar, já deixo aqui meu próximo recurso para tentar dormir: