Crossovers são como dates de IPs. Por mais que exista a intenção de química entre as partes, nem sempre evolui para ficadas ou a vontade de ir acompanhado com esse outro a um supermercado fazer compras da casa, sentimento que só existe por quem a gente ama.
Um date que ninguém shippou antes, mas que deu muito certo quando rolou, foi entre Capcom e Marvel, que pode ser muito bem encapsulado na imagem de tela inicial do jogo X-Men vs. Street Fighter, onde Ryu e Scott Summers, o Cyclops, trocam um aperto de mãos formal e protocolar.
Esse date gerou jogos de arcade inesquecíveis, trilhas dançantes, artes absurdas de personagens da Marvel por artistas a serviço da Capcom... Enfim, você conhece o rolê.
Recentemente, a comunidade de diversões eletrônicas teve a ótima notícia do lançamento de MARVEL vs. CAPCOM Fighting Collection: Arcade Classics, para PS4, Nintendo Switch e PC, ainda esse ano. Isso não é importante. O que afeta a emoção de um indivíduo mesmo, convenhamos, é promo art
Percebe-se, de longe, o entusiasmo do Cyclops, que é um personagem historicamente desassociado do ato de sorrir. Não jogue “cyclops x-men smiling” no buscador de imagens se você perde o sono com facilidade. Mas aqui, nessa imagem, Scott está feliz como nunca antes retratado em qualquer mídia. Por quê?
Não há segredo algum nessa imagem porque, tirando CLT da Shadaloo, quem NÃO ficaria feliz em encontrar o Ryu?
Ryu é, canonicamente, um dos caras mais legais e sociáveis que existem em joguinhos atualmente. Nenhum conteúdo de lore oficial da Capcom precisa confirmar essa verdade. Esqueça a imagem que tentam promover do lobo solitário andando em direção ao sol poente. O Ryu nunca foi sozinho. Ele está em toda parte, em todos os jogos, porque todo mundo adora estar com esse cabra. Se inventaram o RyuNumber, é pela necessidade de estar perto do Ryu através de qualquer interação humana possível.
Antes desse reencontro, é importante lembrar que a amizade entre Cyclops e Ryu foi sabotada por conta, em parte, da política vergonhosa da Marvel em atrofiar a marca X na mídia por não ser um IP do seu domínio em sua expansão nos cinemas, afastando o líder dos X-Men e diminuindo a participação de outros mutantes dos jogos da franquia posteriores ao Marvel vs. Capcom 2.
Longe do seu brother Ryu, Scott passou alguns sufocos. Depois de umas fases questionáveis nos gibis, ele e seus semelhantes viram ruir a Era de Krakoa, uma breve utopia com Estado mutante legítimo, ressurreição em massa, dedo no cu e gritaria liberados, culminando no constante retorno da sua principal referência, Charles Xavier, ao status de cuzão universalmente não confiável (alerta de spoiler pós-spoiler). Na série animada X-men 97, ele foi forçado a reinterpretar traumas e comportamentos tóxicos de momentos antigos dos quadrinhos em episódios espremidos que não dão nem meio segundo para digerir o momento, porque o boneco já tem que sair andando para a próxima cena acontecer.
Aí, agora, finalmente, ele reencontra o Ryu, o cara meio calado, que ama ouvir os outros, respondendo pontualmente com uma sinceridade certeira que preenche de motivação quem a escuta. Quando se solta, fala sobre comida tailandesa de forma tão íntima e banal como se vocês pudessem comê-la quando quisessem, pois o mundo é a sua esquina. Se você o convidasse para o seu aniversário, ele levaria um tijolo que achou na rua, assinado por todos os seus amigos, e essa bobagem visitaria a sua memória todos os anos. Ele vai te ensinar a lutar, não para bater em alguém, nem mesmo para se defender — e ele reza para que você nunca precise —, mas quando você tem o punho fechado, quando os dedos apertam firme a palma da sua mão, o sangue corre mais rápido e o tempo passa mais devagar, são momentos em que as emoções tendem a pilotar a sua vida, para o bem e para o mal, agindo ou reagindo. Mas é quando você retoma o controle e encara o atrito que surge a melhor versão de você. E ele sempre vê o melhor em você.




📻 Podcasts que tenho preferência de escutar em momentos específicos
Ir ao supermercado sozinho: vinte mil léguas (pesquisa e literatura)
Cortar temperos: História FM (história)
Cozinhar: Podcast Nicolas (filmes do Nicolas Cage)
Lavar a louça: Kitsune da Semana (animes, mangás, filmes, etc)
Fazer exercícios físicos: AoQuadrado (quadrinhos)
Pegar ônibus: Vamos Falar Sobre Música? (música?)
Preencher planilha: Dis.Cast (random)
Varrer a casa: Melhores do Mundo (random)
Limpar o banheiro: Vigilância Sanitária (mangás e animes)
Dormir: Xadrez Verbal (política internacional)
🔗 Outros links:
Um filme de Street Fighter está previsto para os cinemas, em 2026 (matéria/EN)
Festival Jogatório, em São Paulo (twitter)
Trailer do Nosferatu do Robert Eggers (Youtube)
O time de futebol do Batman (Substack)
Horas após a decisão do STF sobre porte de maconha no Brasil, Manu Chao anuncia novo álbum em mais de uma década (matéria/EN)