#37 O cara das folhas
No episódio dessa semana: Boku no Hero (sem spoiler do final), nomes esquecíveis, nomes inesquecíveis
O término do mangá de Boku no Hero Academia foi um fenômeno que não pude observar de “dentro”, já que eu havia parado de ler essa história há anos. Não é como se eu tivesse lido por tanto tempo esperando por qualquer tipo de fim. Ler Boku no Hero sempre foi mais uma experiência de boneco. Eu não sei se “boneco” seria o melhor termo a ser usado, mas é o que mais faz sentido para o que eu quero conversar. Imagine pessoas em situações que são reduzidas a uma característica marcante. O cabeludo, a ciclista, a fumante, o esquisito da boina, etc. Eu, por exemplo, já fui o “cara do boné” por uns 3 anos, quando havia desistido de domar o meu cabelo até refazermos as pazes numa reconciliação intermediada pela câmera frontal do celular. Pois bem, em Boku no Hero, é comum — eu diria até intencional — você nutrir esse tipo de associação reducionista ao quadro de personagens. Na turma principal, são 20 alunos com poderzinho diferente. Você não vai lembrar o nome de toda essa galera, e o autor não vai desenvolver todos esses personagens. E nem é necessário, porque tudo o que você precisa é lembrar do poderzinho. O Menino Que Dá Choque, a Menina Sapo ou o Cara Cujo Poder É Apenas Ter Um Rabo, sei lá o nome deles, mas eu conheço os seus poderes, então eu sei, conceitualmente, o que eles são, como se entendesse um boss de Megaman só de bater o olho nele. Isso é o bastante para eles serem gostáveis no “vácuo”, no oco da nossa cabeça.
Nesse universo, onde quase todo mundo tem o seu poderzinho particular, parte do fandom é condicionada a se apegar a algum personagem secundário pouco explorado, com alguma característica que capture a sua atenção. Eu não sei se a menina invisível terá protagonismo em algum capítulo. Ela não precisa, ela é a menina invisível, um conjunto de roupas flutuantes aparecendo no canto do quadro. Quando a gente conhece os seus pais, eles também são um conjunto de roupas flutuantes. Esse boneco cumpre com louvor a sua função de despertar um leve sorriso mental.
O interessante em boa parte desses personagens serem prioritariamente a sua característica de destaque, é que o autor não tem como ficar para sempre nesse simplismo. Por conta da obrigação de explorar minimamente esse quadro enorme de personagens para além do carisma de seus designs, a gente vê momentos como o mini-arco de apresentação de quartos dos estudantes. Como pode um momento bobo ser tão bom, né? São apenas pessoas apresentando os seus quartos uns para os outros — e, claro, para o leitor. Você vê o quarto de alguém e o julga, repara em detalhes, vê uma associação engraçada ou exagerada, cria um sentimento de intimidade e até mesmo tenta entender esse alguém a partir da construção desse espaço que ele cultiva. É um jeito bom de tentar conhecer pessoas.
Agora, vamos lá, esse texto só existe por uma razão. Eu preciso falar dele, o meu boneco sem importância favorito de Boku no Hero: o cara que manipula folhas.
Você lembra dele? Eu creio que não. Durante a invasão do arco da máfia, ele era um dos capangas que ficavam protegendo a entrada do QG da bandidagem. No mangá, ele aparece em apenas uma página do capítulo 138, durante três quadros. No primeiro quadro com a sua presença, ele avista os invasores. No segundo quadro, sua esplêndida habilidade de manipular folhas é apresentada. Ele encerra sua participação na obra no terceiro quadro, sendo neutralizado por um herói numa só porrada.
Eu não estou brincando, eu penso muito nesse boneco. Falou de Boku no Hero perto de mim, eu lembro imediatamente do cara das folhas. Pare para pensar nesse cabra: ele é um capanga que fica ali, ao lado de um arbusto (a sua munição), protegendo o seu posto. Se algo der errado, VRÁÁÁÁÁÁÁ, é fuzilamento de folha, é Bulbassauro neles. É algo tão simples, cômico e instigante. Ele gosta do seu poder? Quão mortífero é levar uma saraivada de folha? Será que ele é o melhor “Magneto de folhas” desse universo? Quão poderoso ele seria no centro de Belém, com túneis de árvores ao seu dispor? Essas são as verdadeiras questões que me atraem nesse mangá.
Mas acima de tudo, eu gosto de pensar também sobre como ele sequer existe como indivíduo nessa história, ele é apenas o receptáculo de um poderzinho. Na wiki de Boku no Hero Academia, não existe página para ele, apenas para o seu poder. Ele nem tem nome. Foi privado de um dos maiores vícios desse mangá: o costume de não lembrar o nome de um personagem irrelevante e chamá-lo apenas pelo seu poder específico.
Saindo da história com personagens que não lembro o nome, vamos aos nomes que não dá para passar batido
📝[Momento Listas] Lista de melhores nomes de colaboradores do Zeca Pagodinho
Paulão 7 Cordas — Arranjador e produtor musical
Beto Sem Braço — Compositor
Paulinho Galeto — Cavaco
Pretinho da Serrinha — Produtor
Barbeirinho do Jacarezinho — Compositor
Casquinha da Portela — Compositor
Zé Katimba — Compositor
Beloba — Tantã
Sombra e Sombrinha (irmãos) — Compositores
Tia Surica — Coro
🔗 Outros links:
Não Se Fala Em Outra Coisa, mas vale avisar sobre o tiny desk do Milton Nascimento e esperanza spalding, caso a sua internet tenha voltado hoje (Youtube)
The Obscure Revival of Satellite Lovers (Youtube/inglês)
Aliás, esse mesmo canal tem um vídeo sobre outra banda japonesa bem boa, o Cymbals (Youtube/inglês)
Tentativas brasileiras de “““Shonen Jump””” com títulos nacionais (Youtube)
The History Of The CIA by Alan Moore and Bill Sienkiewicz (Youtube/inglês)
SUPER Dungeon Muncher, um jogo que você tem que fugir de um monstro comendo o cenário até ele acidentalmente comer um cocô (Steam)
Fiquei muito pensativo com a história do Thor, o gato que agride as tutoras (matéria)
Desses boneco obscuro, acho que meu favorito é o Manga Fukidashi, que eu chamo de Menino Onomatopeia. Ele é um cara da outra sala do colégio, e eu gosto dele porque ele é o personagem mais Turma da Mônica do mangá inteiro - o poder dele é criar onomatopeias gigantes, físicas, no ambiente. O melhor é que ele só existe porque num quadro lá atrás o Horikoshi desenhou um aluno no fundo e esqueceu de desenhar a cabeça, entao fica só um corpo descabeçado com um balãozinho de fala saindo dele, é ótimo